sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

As realidades da fotografia

Elementos constitutivos incorporados à imagem fotográfica
¨Assunto: objeto de registro;
¨Tecnologia: técnica do registro;
¨Fotógrafo: autor do registro, motivados
por razões pessoais e/ou profissionais,

produção a partir do processo cultural/estético/ técnico.

nCoordenadas de situação: contexto histórico.
       Espaço: determinado lugar;
       Tempo: determinada época.

Outros tempos, Boris Kossoy, 1970.


Processo de criação do fotógrafo: estético, cultural e técnico.

Fotografia:
        Componentes de ordem material: recursos técnicos, ópticos, químicos ou eletrônicos.
        Componentes de ordem imaterial: pensamentos e cultura – processo de criação.

Motivação pessoal ou profissional quando seleciona o assunto em função da intencionalidade da imagem.

A ação do fotógrafo é sempre uma sucessão de escolhas.

Etapas do processo fotográfico:
  1. Seleção do assunto;
  2. Seleção de equipamentos (câmera, objetivas, flash, filtros);
  3. Seleção do enquadramento, organização visual do assunto, composição da imagem;
  4. Seleção do momento;
  5. Seleção de material para ampliações das imagens;
  6. Seleção de ferramentas para edição das imagens – tratamento das fotografias.

A representação fotográfica se dá pela relação fragmentação/congelamento:
      Fragmentação: assunto selecionado do real (recorte espacial) - ESPAÇO.
      Congelamento: paralisação da cena (interrupção temporal) - TEMPO.

Fotografia:
     Representação a partir do real;
     Documento do real – fonte histórica.

Viagem pelo Fantástico, Surpresa na Estrada, Boris Kossoy, 1970.

Dualidade ontológica dos conteúdos fotográficos (registro e criação)

A imagem fotográfica fornece provas, indícios, funciona sempre como documento iconográfico acerca de uma dada realidade (KOSSOY, 1999, p. 33).
Índice: prova, constatação documental que o assunto representado existiu; a fotografia é o rastro indicial (marca luminosa), mesmo que seja algo produzido.
Ícone: comprovação documental da aparência do assunto; a tecnologia possibilita a obtenção de um produto semelhante com o referente.

A indexicalidade predomina na fotografia como um vestígio, como o protocolo de uma experiência, como uma descrição, um testemunho. A iconicidade, por outro lado, predomina na fotografia como um souvenir, como uma lembrança, uma apresentação e uma demonstração (SANTAELLA; NÖTH, 2008, p. 111).

Viagem pelo Fantástico, Noiva, Boris Kossoy, 1970. 

Primeira realidade:
¨é o passado;
¨é a realidade do assunto em si na dimensão da vida passada;
¨história particular do assunto independentemente da representação;
¨contexto do assunto no momento do ato do registro;
¨realidade das ações e técnicas do fotógrafo diante do tema no processo de criação;
¨instante de curtíssima duração no ato do registro;
¨momento que o referente reflete a luz que nele incide sobre a chapa sensível.

Realidade interior:
toda fotografia contém em si, oculta e internamente, uma história abrangente e complexa; invisível fotograficamente e inacessível fisicamente; uma representação

Segunda realidade:
¨é a realidade do assunto representado na dimensão da imagem fotográfica;
¨documento visual da aparência do assunto selecionado no espaço e no tempo;
¨é a realidade fotográfica do documento, referência sempre presente de um passado inacessível.

Realidade exterior: o assunto representado configura o conteúdo da fotografia, a face aparente e externa de uma história do passado, cristalizada expressivamente; aspecto visível a realidade exterior da imagem que é o documento.

Brasília, 1972, Justiça e História, Boris Kossoy.

A realidade da fotografia reside nas múltiplas interpretações, nas diferentes leituras que cada receptor dela faz num dado momento; tratamos, pois, de uma expressão peculiar que suscita inúmeras interpretações (KOSSOY, 1999, p. 38).

Sabemos do tempo histórico da criação em função do tempo da representação. O tempo da criação se refere ao próprio fato, no momento em que este se produz, contextualizado social e culturalmente. É, no entanto, um momento efêmero, que desaparece, volatiliza-se, está sempre no passado, insistentemente. No tempo da representação, os assuntos e fatos permanecem em suspensão, petrificados eternamente, perpétuos se conservados (KOSSOY, 2007, p. 134-135).

A realidade está nas imagens, não no mundo concreto, pois este é efêmero e aquela, perpétua (KOSSOY, 2007, p. 142).

Referências:

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 1999.
KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007.
SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 2008.