sábado, 28 de fevereiro de 2015

“Pré-História” da Fotografia

A idéia da fotografia nasce em síntese de duas experiências muito antigas:
  • ·         A primeira é a descoberta de que algumas substâncias químicas são sensíveis à luz.
  • ·         A segunda foi a descoberta foi da câmara escura.



384 e 322 a. C: Aristóteles, filósofo grego, afirmava que se fizesse um pequeno orifício sobre a parede de uma habitação escura, um feixe luminoso desenharia sobre a parede oposta a imagem invertida do exterior. Observou também que quanto menor o orifício, a imagem era mais nítida.

Câmara escura portátil de Kircher, 1646.

1193-1280: Santo Alberto observou o escurecimento do sal de prata, quando exposto à luz.

“Já desde a antiguidade se conhecia a propriedade dos sais de prata escurecerem pela acção da luz. O nitrato de prata utilizava-se para tingir o marfim, a madeira, as penas, as peles e inclusive... o cabelo” (SOUGEZ, 2001, p. 24).

1520: Leonardo da Vinci (1452-1519), artista italiano, deixa a descrição mais completa do aparecimento de uma imagem invertida em uma "câmera escura", em seu livro de notas sobre os espelhos, que é publicado em 1797. A câmera escura, na época, passou a ser importante método auxiliar utilizada por pintores e projetistas.


1550: Jérôme Cardan substitui o orifício da câmara escura por uma lente convergente.


1568: Daniel Barbaro, um nobre veneziano, no seu livro A prática da perspectiva propõe o emprego do diafragma para reduzir ou aumentar o diâmetro do orifício da câmara escura, para melhorar a nitidez da imagem.

     

1573: Egnatio Danti astrônomo e matemático florentino, em La perspecttiva di Euclide, sugere a utilização, na câmara escura, de um espelho côncavo para reinverter a imagem.


 1727: Johann Heirich Schulze, professor de Anatomia da universidade alemã de Altdorf, comprova que a sensibilidade dos sais de prata se deve a incidência da luz. Notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso se escurecia quando exposto à luz proveniente da janela.


1790: Thomas Wedgood, físico inglês, obtém sucesso na captação de imagens sobre um pedaço de couro branco impregnado de nitrato de prata, mas os traços não sobrevivem. Apesar de bem lavadas e envernizadas, as imagens escureciam totalmente quando expostas à luz. Nesta época, ele não conhece uma técnica eficiente para fixar a imagem.

“Foi co-fundador do Lunatic Club, que reunia jovens londrinos amantes das letras e das ciências. Os resultados das investigações [...] foram publicados por este último, em 1802, num memorando aparecido no Journal of the Royal Instutition of Great Britain” (SOUGEZ, 2001, p. 25).

Dica de Filme:


Pintura "Moça com Brindo de Pérola", do holandês Johannes Vermeer, 
feita em cerca de 1665.

Cena do filme "Moça com Brinco de Pérola", uso da câmara escura.

Sinopse: Em pleno século XVII vive Griet (Scarlett Johansson), uma jovem camponesa holandesa. Devido a dificuldades financeiras, Griet é obrigada a trabalhar na casa de Johannes Vermeer (Colin Firth), um renomado pintor de sua época. Aos poucos Johannes começa a prestar atenção na jovem de apenas 17 anos, fazendo dela sua musa inspiradora para um de seus mais famosos trabalhos: a tela "Girl with a Pearl Earring".
Direção: Peter Webber, 2003.

Referências:

OLIVEIRA, Erivam Morais de; VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
REVISTA FHOX. Dez. 1999/jan. 2000. Ano XI. N. 58. São Paulo: Fhox, 1999.
SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2004.
SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Tradução de Lourenço Pereira. Lisboa: Dinalivro, 2001. Título original: Historia de la Fotografia.






quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O que é fotografia?

De acordo com Cláudio Araújo Kubrusly a fotografia tem vários conceitos, entre eles:

Ò  Imagem criada sem o auxílio das mãos, pela ação da luz;
Ò  Fragmento do tempo, retendo uma imagem que jamais se repetirá;
Ò  Processo de gravar e reproduzir imagens de tudo que nos cerca;
Ò  Documento histórico;
Ò  Possibilidade de preservar a fisionomia, o jeito, a alma de quem gostamos;
Ò  Meio de expressão social;
Ò  Arte visual;
Ò  Realidade representada;
Ò  Registro de eventos.

Foto de Harold Edgerton, 1987.

“A fotografia emergiu quase que como uma forma industrial da imagem, que nascia apoiada na misteriosa ‘máquina de pintar’. Para uma humanidade apaixonada, os frutos da máquina eram sempre bem-vindos” (KUBRUSLY, 1991, p. 10).

Para aprender fotografia é necessário:

Ò  Estudar a parte técnica;
Ò  Aprender os mistérios do laboratório;
Ò  Saber de truques e segredos da iluminação;
Ò  Ver muitas fotografias;
Ò  Conhecer a obra de fotógrafos consagrados;
Ò  Ler a história da fotografia;
Ò  Discutir seus conceitos e suas teorias;
Ò  Entender de equipamentos;
Ò  Atualizar-se, pois está no campo da tecnologia;
Ò  Fazer descobertas a cada dia nesta ampla área da imagem. 

Foto de Harold Edgerton, 1964.

Fotografia - aspectos democratizantes:
Ò  Popularização da criação de imagens: suas emoções, seus pensamentos, seu modo de ver; não era necessário saber uma técnica especial como a pintura;
Ò  Posse de imagens: seu próprio retrato e imagens de outros temas.

“A imagem não está limitada pela barreira dos idiomas ou da alfabetização” (KUBRUSLY, 1991, p. 12).

Curiosidades...

Ò  Delaroche (pintor): viu na fotografia uma ameaça a sobrevivência da pintura e dos pintores;
Ò  Delacroix (pintor): usou destemidamente a imagem fotográfica;
Ò  George Eastman (funcionário do banco): transformou a fotografia numa indústria.
Ò  Edgar Allan Poe (escritor e pintor): disse que esta invenção maravilhosa chegou tão tarde;
Ò  Marshall McLuhan (professor, sociólogo): “Eis o passo decisivo da era do Homem Tipográfico para a era do Homem Gráfico”.

“Não apenas qualidade técnica, mero domínio científico de um meio, mas qualidade entendida como a resultante de todos os elementos que determinam e criam a imagem fotográfica” (KUBRUSLY, 1991).
Imagens de Dan Chung, Olimpíadas de Londres em 2012.

Dan Chung fotografando as Olimpíadas de Londres, 2012.

Mais informações:

Origem do nome fotografia:

Grécia: usada nos países ocidentais - foto = luz, grafia = escrita.
              Fotografia: arte de escrever com a luz.
Japão: usada nos países orientais - sha-shin = reflexo da realidade.
              Fotografia: forma de expressão visual.
Portanto, fotografia é a linguagem e a forma de expressão visual.

Hierarquia de Componentes numa Imagem:

A escrita icônica é formada por componentes: 
1. Componentes vivos: humanos e animais;
2. Componentes móveis: certos fenômenos e elementos naturais;
3. Componentes fixos: objetos.

Na escrita fotográfica há uma relação hierárquica entre os elementos: vivo, móvel e fixo.

Exceções:
Quando o componente vivo ocupa espaço reduzido na foto.
Quando o componente fixo representa uma coisa inabitual.

“O nosso ver é uma coisa inteiramente dinâmica, assimétrica” (LIMA, 1998, p. 21).



Leitura da Fotografia:

Percepção: fase puramente ótica; os olhos percebem formas e tonalidades; etapa muito rápida, cerca de meio segundo;
Identificação: fase às vezes ótica, às vezes mental, como a leitura de um texto. O leitor identifica os componentes da imagem e registra mentalmente o conteúdo.

Interpretação: fase puramente mental; quando se manifesta o caráter polissêmico da fotografia. Cada pessoa interpreta de acordo com sua cultura, profissão, sexo, idade, ideologia.

Os signos icônicos funcionam em dois níveis: o descritivo (leitura) e o sugestivo (interpretação).

“A leitura de uma fotografia nos provoca, portanto, reações emocionais mais espontâneas e quase sempre mais intensas do que a leitura de um texto” (LIMA, 1998, 23).


Dica de Filme: 



Sinopse:
Um dos filmes sobre fotografia que mais me comove é esse documentário dos cineastas Zana Briski e Ross Kauffman. Eles queriam mostrar a vida das prostitutas do bairro da luz vermelha em Calcutá, Índia. Ao chegar lá, tiveram uma surpresa: o lugar era cheio de crianças, filhos e filhas das prostitutas. Enquanto as mães ganhavam a vida vendendo o corpo, os maridos (sim, a maioria delas era casada) se embebedavam e usavam drogas. Os filhos ficavam soltos nas ruas, esperando terem idade suficiente para se tornarem como os pais.
Fonte: http://www.queimandofilme.com/2013/05/28/filme-nascidos-em-bordeis-criancas-da-luz-vermelha-de-calcuta/

Direção: Zana Briski e Ross Kauffman, 2004.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=E6xxSZzlCBI

Referências:
KUBRUSLY, Cláudio Araújo. O que é fotografia. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Primeiros Passos, 82).
LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1998. (Coleção Antes, Aqui e Além).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Imagem e Fotografia

Desde do nascimento as pessoas aprendem a simbolizar e decodificar símbolos estabelecidos. Como exemplo, cada maçã abaixo aciona diferentes conhecimentos: religioso, científico, cultural e tecnológico.



“O olhar é aprendido, é treinado, de forma articulada com outros olhares. O olhar não é individual, ele é determinado social e conjunturalmente. É em função do tipo de olhar de uma dada época que são determinados os tipos de imagens e de que forma as pessoas se relacionam com elas” (ACHUTTI, 1995, p. 432-433).

O estudo do Mito da Caverna de Platão serve para discutir as conceitos de imagens, sombras, realidade.

Fonte: http://www.brasilescola.com/filosofia/mito-caverna-platao.htm

História em quadrinhos de Maurício de Sousa: http://forum.jogos.uol.com.br/alegoria-da-caverna-que-serviu-de-base-para-matrix-retratado-em-quadrinhos-resumo-no-post-3_t_2512219


Régis Debray, filósofo francês, na obra Vida e morte da imagem: uma história do olhar no ocidente estuda a criação da imagem ao longo dos tempos, indica nesta pesquisa que existem três eras com diferentes objetivos e características: logosfera (olhar mágico), grafosfera (olhar estético) e videofesra (olhar econômico).


Diz-me o que vês, eu te direi por que vives e como pensas” (DEBRAY, 1994, p. 213).

Primeira fase - Logosfera: fase dos ídolos, as imagens tem poder, serve para enfrentar o mundo do sobrenarural, tem o objetivo de salvar e proteger, é o período da teocracia. A imagem abaixo é um imago, uma máscara usada durante os funerais na Antiguidade Romana.
Segunda fase - Grafosfera: fase da arte como a maior apreensão do mundo (século XV ao XIX), período da androcracia.
“A arte chega à imagem quando a magia se retira” (DEBRAY, 1994, p. 34).


Terceira fase - Videosfera: era do visual, as pessoas tem poder sobre o espaço, o tempo e os corpos, fase do consumo, período da  tecnocracia.


“A imagem auto-referente dos computadores permite visitar um prédio que ainda não está construído, andar em um carro que só existe no papel, pilotar avião falso em uma verdadeira cabine. [...] Eis o visual” (DEBRAY, 1994, p. 277).


A fotografia faz a transição das artes plásticas para as artes visuais. Em seguida, o cinema, a televisão, o vídeo e a computação. Em 1839, em Paris, foi oficialmente divulgada a invenção da fotografia. Inicialmente a fotografia foi amada e odiada (por parte dos pintores), trouxe mudanças de hábitos e formas de olhar o mundo.


“Para uma imagem alcançar eficácia simbólica, não basta que seja vista, ela tem que ser interpretada por um sujeito que compartilhe dos códigos simbólicos carregados pela imagem (ACHUTTI, 1995, 437).

Fotografar é participar na mortalidade, vulnerabilidade e mutabilidade de uma outra pessoa ou objeto. Cada fotografia testemunha a inexorável dissolução do tempo, precisamente por selecionar e fixar um determinado momento. [...] A fotografia é o inventário da mortalidade”.Susan Sontag (1986, 24, 70) 

Dica de Filme:

 Referências:


ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Imagem e Fotografia: aprendendo a olhar. In: Corpo e significado: ensaios de antropologia social. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1995.
DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no Ocidente. Tradução de Guilherme Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Título original: Viet et mort de l’imageUne histoire du regard en Occident.
SONTAG, Susan. Ensaios sobre fotografia. Lisboa: Dom Quixote, 1986.