1945: O ano de
1945 foi marcado também pelo surgimento de um outro trabalho de ruptura.
Tratava-se de Thomas Farkas que ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante nesta época. Através de um ângulo de
tomada não usual, ele bombardeia o nosso senso de equilíbrio. Se dedicou ao
cinema amador.
Thomaz
Jorge Farkas (Budapeste, Hungria 1924 - São Paulo
2011). Fotógrafo, professor,
produtor e diretor de cinema. Em
1930, imigra com a família para São Paulo, onde seu pai é sócio fundador da Fotoptica, uma das primeiras lojas de
equipamentos fotográficos do Brasil. Associa-se ao Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB) em 1942, e começa a expor em
salões nacionais e internacionais. Na década de 1940, fotografa
companhias de balé, esportes, paisagens e cenas do cotidiano urbano de São Paulo e do Rio
de Janeiro.
Realiza,
em 1949, a mostra individual “Estudos Fotográficos”, no Museu de Arte Moderna
de São Paulo (MAM/SP), e sete imagens suas passam a integrar a coleção do Museum of Modern Art (MoMA). Faz
experimentações em cinema, freqüenta os estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, São
Paulo. Gradua-se em Engenharia
Mecânica e Elétrica na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) em 1953. De 1957 a 1960,
fotografa a construção e a
inauguração de Brasília.
Entre
1964 e 1972, atua como produtor,
patrocinador e, algumas vezes,
como diretor de cinema e
fotografia em documentários sobre
a cultura popular no interior do Brasil no projeto conhecido como Caravana Farkas, que reúne vários
cineastas. Em 1997, lança o livro Thomaz Farkas, Fotógrafo e realiza
exposição homônima no MASP com
trabalhos produzidos nos anos 1940 e 1950.
Em 2005,
a Pinacoteca do Estado de São
Paulo (PESP) inaugura a exposição Brasil e Brasileiros no Olhar de
Thomaz Farkas, que apresenta, pela primeira vez, imagens coloridas feitas nas décadas de 1960 e 1970. No
ano seguinte, parte dessas fotos é reunida no livro Thomaz Farkas, Notas de Viagem.
1949: Geraldo de
Barros nasceu em Chavantes, São Paulo em 1923 e faleceu em 1998. Fotógrafo, pintor, gravador, artista
gráfico, designer de móveis e desenhista. É um dos fundadores do Grupo 15, ateliê instalado no centro da cidade
em 1947, onde constrói um laboratório fotográfico. Ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante em 1949, já com uma experiência
anterior em artes plásticas.
Fez fotos
de cenas montadas e fotografou objetos, enfatizando o ritmo
de seus elementos constitutivos. Múltiplas exposições, recortes, superposições
e desenhos sobre o negativo, montagens fotográficas, cortes nas cópias já
prontas demonstram a linguagem de Barros. Com Thomaz Farkas, em 1949, cria o laboratório e
os cursos de fotografia do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
- MASP.
Geraldo
de Barros organizou a exposição “Fotoformas”, cujo título é referência à Gestalt, realizada no MASP em 1950, trouxe a público um
trabalho precursor da arte de vanguarda no Brasil. Nesta exposição as
fotos foram combinadas sobre suportes especialmente projetados, que além de
modificarem a percepção das fotos isoladas, propunham uma organização
construtiva do espaço num sentido mais amplo.
1950: O
fotojornalismo recebe grande impulso com a revista O Cruzeiro e o Jornal
do Brasil, no mesmo ano em
que a fotografia é declarada “utilidade
pública” em São Paulo.
1951: José Oiticica Filho participou
do Photo Club Brasileiro no começo dos anos 1940 e
depois participou do Foto Cine Clube Bandeirante. Criou montagens fotográficas, como a obra “O túnel” (abaixo), de 1951, com o resultado
final a partir de duas fotos. José Oiticica Filho
nasceu no Rio de Janeiro em 1906 e faleceu em 1964,
filho de um pensador anarquista e filólogo José Oiticica. Pai dos artistas visuais Hélio Oiticica e César Oiticica.
Conseguiu trazer para a fotografia brasileira
um frescor ainda hoje revolucionário. Foi fotógrafo, pintor, professor,
matemático e entomologista no Museu Nacional. Nesta atividade via no microscópio coisas que
o maravilhavam e forma essas imagens visualizadas é que desencadearam a
necessidade de aprender fotografia. Foi incluído numa lista dos melhores
fotógrafos do mundo, constituída pela Fédération Internationale d'Art Photographique.
Em Composição
Óbvia (abaixo), de 1955, um marco em seu
trabalho, retoca inteiramente a foto, realçando as formas geométricas.
Experimenta vários processos para atingir a abstração.
Vídeo sobre o foto Cine Clube Bandeirante com o Prof. Rubens Fernandes Junior.
1951: José Medeiros, discípulo de Jean Manzon,
fotografou cerimônias de candomblé, em um registro considerado como
etnográfico. A reportagem mais famosa foi “As noivas dos deuses sanguinários”, publicada em 15 de novembro de 1951, sobre a
iniciação de jovens mães de santo no Terreiro de Oxossi
de Candomblé na Bahia, de Mãe Riso da
Plataforma, trazia inclusive cenas de sacrifício animal e texto de Arlindo
Silva.
Nascido em Teresina no Piauí
no ano de 1921, Medeiros recebeu influência do pai que adorava tirar fotos da
família em dias de domingo em praças da capital. Ele possuía um tripé, colocava
a máquina e configurava no modo automático e tirava foto dele junto à família.
A primeira máquina de Medeiros foi presente
de seu pai para ele realizar seu primeiro trabalho como fotógrafo. Mudou para o
Rio de Janeiro em 1939, e trabalhou com
foto nas revistas Tabu, Rio e Sombra. Entrou para a revista O Cruzeiro em
1946 e permaneceu por lá por 15 anos. Faleceu em 1990.
“O Cruzeiro passou a ser a etapa final do jornalismo no Brasil, o sonho dourado das pessoas. Um fotógrafo da revista era tão famoso quanto é hoje um galã da Globo. Aonde íamos tinha gente esperando para nos badalar. Cheguei até a dar autógrafos na rua. [...] O fotojornalismo unificou o país através das páginas da revista O Cruzeiro”.
José Medeiros (50 Anos de Fotografia, p. 15 apud COSTA; RODRIGUES, 1995, p. 120
O goleiro uruguaio
Máspoli e Augusto, jogador da seleção brasileira, se abraçam após a
derrota brasileira na Copa do Mundo de 1950. Rio de Janeiro.
Em 1962, já desligado de O Cruzeiro, ele fundou a agência Image, com Flávio Damm e Yedo Mendonça. Três anos depois, começou a trabalhar em
cinema, assinando a direção de fotografia de obras clássicas entre nós, como A falecida (1965),
de Leon Hirszman, Xica da
Silva (1976), de Cacá Diegues, e Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos.
A reportagem “As noivas dos deuses
sanguinários” foi uma reposta a outra publicação sobre candomblé com o título “Les Possédées de Bahia”, publicada
pela revista francesa Paris Match, em maio. As fotos foram feitas pelo francês Henri George Clouzot e o texto era pejorativo em relação ao
candomblé.
Fonte: Fernando de Tacca (2006, p. 02).
1952: Começa a circular a revista Manchete, da Editora Bloch (de Adolpho Bloch), com a
proposta de privilegiar a fotografia como forma narrativa independente do
texto. Apoiou e acompanhou a construção de Brasília. Era concorrente da revista O Cruzeiro.
1957: José Medeiros publicou o livro Candomblé com 60 fotos, sendo 38 da reportagem da
revista O Cruzeiro, “As noivas dos deuses
sanguinários”. Em 2005, o acervo fotográfico de José
Medeiros, composto por 20 mil fotogramas, veio integrar definitivamente a coleção do Instituto Moreira Salles (IMS).
1958: Instalação da empresa Fuji no Brasil.
1960: As revistas Realidade
e Bondinho e Jornal da Tarde estampam praticamente
todas as matérias com fotos em suas páginas.
Dica de Filme:
Sinopse: O bando de cangaceiros do capitão Gaudino (Milton Ribeiro) semeia o terror pela caatinga nordestina. É neste contexto que a professora Maria Clódia (Vanja Orico), raptada durante um assalto do grupo, se apaixona pelo pacífico Teodoro (Alberto Ruschel). O forte amor entre os dois gera grande conflito no bando.
Direção: Lima Barreto, 1953.
Referências:
BUITONI, Dulcilia Schroeder. Fotografia e jornalismo: a
informação pela imagem. São Paulo: Saraiva, 2011. (Coleção Introdução ao
Jornalismo; v. 6).
COSTA, Helouise; RODRIGUES,
Renato. A fotografia moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ: IPHAN: FUNARTE, 1995.
OLIVEIRA, Erivam Morais de; VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: uma viagem entre o analógico e o digital. São
Paulo: Cengage Learning,
2009.
SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o
trabalho. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al.
Rose Zuanetti;
Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Ed. Senac
nacional, 2004.
TACCA, Fernando de. O Cruzeiro versus Paris Match e Life
Magazine: um jogo especular. In:In: Líbero. Ano IX, n. 17, Jun.
2006. Disponível em: http://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/05/O-Cruzeiro-versus-Paris-Match-e-Life-Magazine.pdf
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