quinta-feira, 16 de abril de 2015

A Fotografia nos Anos 1990 - Parte 1

1990: A empresa Adobe Systems Incorporated fornece aos usuários do Macintosh novas opções de imagens digitais. Os irmãos Thomas e John Knoll lançam a versão 1.0 do programa de manipulação de imagem digital Adobe Photoshop.



 

 

 



1990: A Kodak anuncia fotos em CD, uma nova maneira de armazenar as imagens.


1990: O fotojornalismo e a mídia passam a ser rigorosamente controlados pelo governo americano durante a Guerra do Golfo. Este conflito durou de 02 de agosto de 1990 até 27de fevereiro de 1991. A fotografia de Ken Jarecke mostrando um "Soldado iraquiano" carbonizado na cabide de seu caminhão gerou muitos protestos, foi publicada no The Observer em 3 de março de 1991 (abaixo). “A foto ultrapassa os ‘limites do admissível’” (SOUSA, 2004, p. 209).


Tudo começou quando o presidente iraquiano Saddam Hussein acusou o Kuwait de praticar uma política de super-extração de petróleo causando uma queda nos preços e prejudicando a economia iraquiana. Hussein também ressuscitou problemas antigos e exigiu indenização. Como o Kuwait não aceitou foi invadido por tropas iraquianas. A atitude de Hussein mobilizou o mundo e diversas nações, lideradas pelos Estados Unidos, se uniram para tentar reverter esse quadro.

Um tanque iraquiano destruído pelas forças aliadas da Coalizão.

“As imagens da Guerra do Golfo em 1991, entre o Iraque e uma coalizão de 34 países liderados pelos Estados Unidos, uma guerra feita para ser fotografada e videografada demonstrando o poder bélico norte-americano, na sua epopeia real e teatral pelos mísseis no céu de Bagdá. Neste período, o fotojornalismo passa a ser controlado pelo governo norte-americano. Essa guerra se tornou um espetáculo midiático através das imagens divulgadas pelo próprio Departamento de Defesa Americano” (TOREZANI, 2014, p. 10).

Há exatos 23 anos, a rede norte-americana CNN transmitia ao vivo imagens de mísseis cruzando o céu de Bagdá, capital do Iraque, no Golfo Pérsico. Aquela era a primeira vez que uma guerra era televisionada. O bombardeio dava início à operação Tempestade no Deserto, encabeçada pelos Estados Unidos. Foto de Patrick De Noirmont/Reuters.

“Neste conflito (1991), cônscios da importância que o fotojornalismo teve na sensibilização do público contra a guerra do Vietname, os militares de ambos os lados adotaram estratégias censórias, como o funcionamento em pools de repórteres fotográficos com outros jornalistas, guiados por militares através de itinerários previamente escolhidos; a própria estratégia militar foi programada a pensar nas imagens, que, pela primeira vez na história do fotojornalismo, se concentraram mais na alta tecnologia militar que no elemento humano” (SOUSA, 2004, p. 200).

Responsáveis pela cobertura, os jornalistas Peter Arnett e Bernard Shaw acabaram ficando tão famosos quanto as imagens dos bombardeios que, embora reais, se assemelhavam a um jogo de videogame. Arte UOL.

“Uma fotografia deste confronto foi premiada no World Press Photo de 1991, a imagem de Diane Walker (Time), em que Bush se ergue orgulhoso entre os soldados americanos na Arábia Saudita. Assim as imagens também serviram para consolidar a oposição Bush X Hussein e direcionar os inimigos e aliados. Sobre este conflito, os diversos autores que tratam do tema indicam a necessidade de discutir o “direito de ver” (TOREZANI, 2014, p. 11). Imagem abaixo:


“Este conflito foi mostrado ao mundo, principalmente através da emissora de televisão norte-americana CNN (Cable News Network), foram imagens dos bombardeios aéreos sobre Bagdá” (TOREZANI, 2014a, p. 4).

O Iraque acusava ainda o país vizinho de ter roubado US$ 2,4 bilhões em petróleo do seu território e de ter causado perdas de US$ 14 bilhões por exportar óleo além da cota estabelecida pela Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo). Além disso, o Iraque nunca havia aceitado as fronteiras entre os dois países, impostas pelos britânicos. Foto de Lazim Ali/Reuters.

Para o professor Arlindo Machado, trata-se de uma abordagem asséptica do conflito, não se mostrou imagens de mortos nem destruição por conta da censura militar: “depois do Vietnã, ficou bastante claro às potências internacionais que uma guerra pode ser decidida mais na televisão do que nos campos de batalha” (2011, p. 237).

Nas seis semanas seguintes, os aviões dos países do ocidente realizaram mais de 116 mil viagens de ataque e lançaram sobre seus alvos um total de 85 mil toneladas de bombas. Cerca de 10% delas conseguiam acertar com precisão seus alvos, eram as chamadas "bombas inteligentes". A foto, de janeiro de 1991, mostra o disparo de um míssil de um navio norte-americano contra o Iraque, no Golfo Pérsico. Foto de John McCutcheon/AP.

“A televisão, neste caso, contribuiu para desconstruir os discursos da guerra, colocando em confronto os dois lados opostos e a forma como George Bush e Saddam Hussein se colocaram diante do conflito. Uso de satélites, rápida transmissão de imagens, 700 jornalistas registrados para a cobertura, jornalismo ao vivo durante 24 horas, em especial pela CNN, e mesmo mostrando muitas imagens, pouco se informou, nem como e onde os mísseis atingiram a cidade de Bagdá. Não houve um relato coerente sobre o fato, mas o telejornal serviu de front de batalha entre os iraquianos e os aliados” (TOREZANI, 2014a, p. 4-5).

Na foto, curdos brigam para conseguir pão em um campo de refugiados em Isikveren, na Turquia, na fronteira com o Iraque, em abril de 1991. Foto de Nabil Ismail/AFP.

Imagens de Sebastião Salgado – Kwait, 1991:

 Greater Burhan, campo petrolífero.

Bombeiros canadenses batalham para vedar um poço de petróleo.

Poço de petróleo, Burhan.

Um bombeiro da equipe de segurança é nocauteado por uma explosão de gás da boca do poço.


1990: Kevin Carter nasceu na África do Sul em 13 de setembro de 1960 durante o período do apartheid e cresceu em um bairro de classe média exclusivo para brancos. Quando criança, Carter ocasionalmente via batidas policiais para prender negros que viviam ilegalmente na área. Ele disse posteriormente que se questionou sobre os motivos de seus pais, uma família católica e "liberal", serem tão "indiferentes" com a luta contra o regime do apartheid.


Carter começou a trabalhar como fotojornalista esportivo nos fins de semana em 1983. Em 1984, ele mudou-se para trabalhar para o jornal Johannesburg Star, empenhado em expor a brutalidade do apartheid. Foi o primeiro a fotografar uma execução pública necklacing (um tipo de execução e tortura praticada ao colocar um pneu de borracha, cheio de gasolina, em torno do peito e dos braços da vítima, e depois atear fogo) de negros na África do Sul, por volta da década de 1980.


Sua história é retratada no longa-metragem de 2010 The Bang Bang Club, onde ele foi interpretado por Taylor Kitsch. Trata-se da história de  um grupo de jovens repórteres - Greg Marinovich, João Silva, Kevin Carter e Ken Oosterbroek - para contar ao mundo toda a violência e brutalidade nas primeiras eleições livres na África do Sul após o fim do regime de apartheid. Foi baseado no livro The Bang Bang Club escrito por Marinovich e o português João Silva.


Kevin Carter se une a três outros fotojornalistas (“O Clube Bang Bang) para documentarem a violência nas aldeias da África do Sul. Carter estava se preparando para fotografar uma criança faminta tentando chegar a um centro de alimentação da Organização das Nações Unidas próximo à aldeia de Ayod, no atual Sudão do Sul, quando um abutre se aproximou. Ele relatou que tirou a fotografia porque esse era o seu "trabalho" e depois partiu. Ele foi criticado por não ajudar o menino, Kong Nyong.


A fotografia “Sudão” foi tirada em 10 de março de 1993 e publicada no New York Times em 26 de março, gerando enorme impacto e Kevin Carter ganhou o Prêmio Pulitzer de Fotografia, em 23 de maio de 1994. Suicida-se dois meses depois. Simboliza a luta pela sobrevivência de seres humanos desamparados à beira da morte, num país dilacerado pelo caos político e castigado por desastres naturais. “Sudão” (abaixo) é uma foto chocante que passou a personificar a morte por inanição nos países africanos assolados pela fome, Sudão também se tornou alvo de críticas contundentes relacionadas à ética do fotojornalismo.


1990: A inglesa Corinne Day (1962-2010) faz fotos de Kate Moss para a The Face (abaixo) em uma matéria especial chamada “O terceiro verão do amor”, marcando o início da carreira fulgurante da modelo. As fotos de Day fez um estilo de foto de moda chamado de grunge.

“Esta imagem de Kate Moss aos 19 anos de idade, bem magrinha, posando no próprio apartamento – parte de uma série publicada na Vogue britânica para um editorial de roupas íntimas em junho de 1993 -, gerou controvérsia e foi acusada por alguns críticos de promover distúrbios alimentares, o uso de drogas e até a pedofilia”. 
Tudo sobre fotografia, 2012, p. 488

Foi uma fotógrafa autodidata. Tinha um olhar documental peculiar para fazer imagens de moda. Da modelo Kate Moss fez retratos cândidos e íntimos (abaixo).


Durante sete anos fez fotos pessoais para o seu primeiro livro, Diary (Kruse Verlag, 2000), registro visual pessoal e dos amigos. Seu trabalho fotográfico já foi exibido na National Portrait Gallery, Victoria & Albert Museum, Tate Modern, Saatchi Gallery, Museu da Ciência, Museu do Design, Photographers Gallery, Gimpel Fils London e incluídas na exposição Andy Warhol no Whitney Museum NY.

Esquerda: Gisele Bündchen.
Direita: Gemma Ward,Vogue UK Julho 2006.

Em 2009, foi diagnosticada com um tumor cerebral muito grave. Duas semanas mais tarde, Kate Moss e outros artistas e amigos venderam suas fotografias em uma campanha intitulada "Save Day" para que ela pudesse fazer quimioterapia nos Estados Unidos. Conseguiram mais de £ 100,000. Day abriu as portas para toda uma nova geração de fotógrafos, designers, modelos e estilistas que de repente viram que a indústria da moda não tem que ser este um clube exclusivo para os privilegiados e perfeitos. Corinne Day morreu aos 45 anos, em agosto de 2010, após uma longa luta contra o câncer.

Esquerda: Suvi Koponen.
Direita: Ekeliene Stange para Vogue Itália. Agosto 2006.

Dica de Filme:


Sinopse: Quatro jovens jornalistas acompanham os agitados últimos dias de apartheid e a primeira eleição verdadeiramente democrática realizada na África do Sul. Miséria, violência e desigualdade mudam para sempre a vida do grupo.
Direção: Steven Silver, 2011.
Trailer:


Referências:

HACKING, Juliet (editora geral). Tudo sobre fotografia. Tradução de Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. Título original: Photography: the whole story.

MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & pós-cinemas. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 2011. (Coleção Campo Imagético).

REVISTA FHOX. Dez. 1999/jan. 2000. Ano XI. N. 58. São Paulo: Fhox, 1999.

SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: Introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004a.

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Chapecó: Argos; Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004b.

TOREZANI, Julianna Nascimento. A fotografia de conflitos: da Primeira Guerra Mundial ao Ataque ao World Trade Center. In: Anais do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Foz do Iguaçu, PR: Intercom, 2014. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/navegacaoDetalhe.php?id=56193

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