domingo, 17 de maio de 2015

História da Fotografia no Brasil - Século XIX - De 1832 a 1859

1832: O boticário Joaquim Correa de Mello (1816-1877), um respeitável botânico, explica para Hercules Florence as propriedades fotossensíveis do nitrato de prata.

1833: O artista e inventor francês de Nice Antoine Hercules Romuald Florence (1804-1879), radicado no Brasil, na vila de São Carlos (atual cidade de Campinas), descobre o processo fotográfico, ao realizar pesquisas para encontrar fórmulas alternativas de impressão por meio da luz solar, chamado de poligrafia. Produz cópias, por um processo fotográfico, de rótulos de farmácia e um diploma da maçonaria.

Hercules Florence aprimora seu invento e passa a fotografar com chapa de vidro e papel pré-sensibilizado para contato. Foi o primeiro a usar a técnica "Negativo/Positivo" empregado até hoje. Alguns exemplares de Florence existem até hoje e podem ser vistos no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Sua contribuição, entretanto, só ficou sendo conhecida pelos habitantes de sua cidade e por algumas pessoas em São Paulo e no Rio de Janeiro, não surtindo, na época, qualquer outro tipo de efeito. 
Vila de S. Carlos, Campinas. Rótulos de farmácia, cópia fotográfica por contato sob ação da luz solar, cerca de 1833. 

“Em 1832, assaltou-me a ideia de imprimir pela ação da luz sobre o nitrato de prata. O Sr. Correia de Mello (muito notável botânico brasileiro) e eu demos ao processo o nome fotografia”.
Hércules Florence (apud OLIVEIRA, VICENTINI, 2009, p. 14).


1839: No Rio de Janeiro, em 1 de maio, o Jornal do Commercio noticia a invenção de DaguerreHercules Florence publica sua descoberta da fotografia no jornal paulista A Phenix, depois de tomar conhecimento da invenção de Daguerre.


Inventei a fotografia; fixei as imagens na câmera obscura, inventei a poligrafia, a impressão simultânea de todas as cores, a prancha definitivamente carregada de tinta, os novos sinais estenográficos. Concebi uma máquina que me parecia infalível, cujo movimento seria independente de um agente qualquer e cuja força teria alguma importância. Comecei a fazer uma coleção de estudos de céus, com novas observações, muitas aliás, e meus descobrimentos estão comigo, sepultados na sombra, meu talento, minhas vigílias, meus pesares, minhas privações são estéreis para os outros”.
Hércules Florence (OLIVEIRA, VICENTINI, 2009).

1840: O abade francês Louis Compte traz o daguerreótipo para o Brasil em 16 de janeiro desse ano, documentando as proximidades do Paço da Cidade com três imagens (atual Praça XV de Novembro, centro do Rio de Janeiro), inclusive com a presença de soldados e outras pessoas (uma proeza técnica). O abade Compte, dias depois, faz uma demonstração do daguerreótipo para o futuro imperador D. Pedro II. Desde o dia que Compte registrou as primeiras imagens no Rio de Janeiro, D. Pedro II se interessou profundamente pela fotografia, sendo o primeiro fotógrafo brasileiro com menos que 15 anos de idade. Tornou-se praticante, colecionador e mecenas da nova arte. Trouxe os melhores fotógrafos da Europa, patrocinou grande exposições, promoveu a arte fotográfica brasileira e difundiu a nova técnica por todo o Brasil. Atribuiu títulos e honrarias aos seus daguerreotipistas preferidos.
Fotografia de Louis Compte, Paço Imperial, Rio de Janeiro (1840), primeiro daguerreótipo tirado na América do Sul. 

1842: Na Exposição Geral da Academia Imperial de Belas-Artes a fotografia surpreende, apresentando-se lado a lado com a pintura: são daguerreótipos da senhora Hippolyte LavenueOs franceses Florencio Varella e o casal Hippolyte Lavenue destacaram-se entre os muitos fotógrafos que atuavam na cidade.
Florencio Varela com sua filha María
Daguerreótipo, 8 x 6.9 cm. Montevideo, 1847. Museu Histórico Nacional. 

1844: Iniciada a edição do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro dos Irmãos Laemmert, importante veículo de divulgação dos serviços de fotógrafos na cidade ao longo do século XIX.

1851: Abraham-Louis Buvelot (nasceu em Morges, 1814; faleceu em Melbourne, 1888) foi um artista da Suíça que teve passagem pelo Brasil e pela Austrália no século XIX. Era pintor, litógrafo, fotógrafo, desenhista e professor. No Brasil, realizou uma paisagem por encomenda da imperatriz Dona Teresa Cristina que lhe valeu o título de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. Prestou diversos serviços em daguerreotipia para a Casa Imperial, sendo por isso agraciados com o título de Photographo da Casa ImperialA casa fotográfica de Buvelot & Prat recebe autorização para usar as armas imperiais na fachada do estabelecimento. Tornando-se os primeiros fotógrafos do mundo a merecerem uma honraria de um monarca.
Daguerreótipo da Imperatriz Teresa Christina, 1855, Buvelot & Prat.

1854: O fotógrafo e pintor português Joaquim Insley Pacheco (1830-1912) chega ao Rio de Janeiro, onde se torna um dos mais conhecidos retratistas (imagem abaixo). Nasceu em Cabeceiras de Basto, entre as serranias da Cabreira e do Marão, nas margens do Tâmega. Foi aprendiz de Mathew B. Brady (1823-1896), o famoso fotógrafo americano que registou a Guerra de Secessão entre 1861 e 1865.  Recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial em 1855. Recebeu uma medalha de prata na exposição de 1866. Sua obra retrata a família real, políticos e aristocratas de seu tempo, faleceu no Rio de Janeiro.

D. Pedro II, Imperador do Brasil, Rio de Janeiro, 1883. Platinotipia. Retrato: Joaquim Insley Pacheco.

Imperatriz Teresa Cristina Maria, Consorte de D. Pedro II. Retrato: Joaquim Insley Pacheco.

Princesa Isabel, Rio de Janeiro, 1870. Retrato: Joaquim Insley Pacheco.

Conde D'Eu em uniforme militar, 1870. Retrato: Joaquim Insley Pacheco.

Escritor Machado de Assis, 1884. Retrato: Joaquim Insley Pacheco.

1854: O inglês Benjamin Robert Mulock (1829-1863), fotógrafo e engenheiro, documenta entre 1858 e 1861 as obras da quinta estrada de ferro construída no Brasil Bahia and São Francisco Railway Company e fotografa a cidade de Salvador e o interior baiano. Mulock (imagem abaixo) soube transformar as encomendas das ferrovias em oportunidades de documentação paralela da paisagem circundante e até mesmo de aspectos urbanos (vide suas vistas de Salvador e Santo Amaro da Purificação) ou humanos das regiões visitadas. Fez série de vistas da cidade de Salvador, em coleções  que estão na Biblioteca Nacional e Gilberto Ferrez, no Rio de Janeiro, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, e na Fundação Bosch, em Suttgard, Alemanha.

Catedral Basílica, Salvador, Bahia, circa 1859. Foto de Benjamin Mulock.

Cemitério dos Ingleses, Salvador, Bahia, circa 1860. Foto de Benjamin Mulock.

Igreja do Bonfim, Salvador, Bahia, circa 1860. Foto de Benjamin Mulock.

Ladeira de São Bento, Salvador, Bahia, circa 1860. Foto de Benjamin Mulock.

Vila Velha do Pereira, Salvador, Bahia, circa 1860. Foto de Benjamin Mulock.

Farol e Forte de Santo Antônio da Barra, Salvador, Bahia, circa 1860. Foto de Benjamin Mulock.

1859: O imperador D. Pedro II realiza sua primeira viagem ao norte do país e sua chegada a Recife é documentada por Augusto Stahl.

O fotógrafo Theophile Auguste Stahl (nasceu na Alsácia, França, 1824-1877). Chegou em Recife, em 1853, permanecendo em atividade até 1861, depois foi para o Rio de Janeiro, onde abriu um estúdio à Rua do Ouvidor 117. Associou-se ao pintor Germano Wahnschaffe entre 1858 e 1862, ano em que ambos receberam o título de Fotógrafos da Casa Imperial. Foi um dos melhores fotógrafos paisagistas a atuar no Brasil durante o século XIX, tendo registrado diversos aspectos das províncias de Pernambuco e do Rio de Janeiro.
Mercado da Glória, Rio de Janeiro, circa 1862. Foto de Augusto Stahl.

O bairro do Catete e o Pão de Acúcar, Rio de Janeiro, circa 1862. Foto de Augusto Stahl.

Palácio de São Cristóvão na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, circa 1862. Foto de Augusto Stahl.

Documentou ainda a construção da segunda estrada de ferro brasileira, a Recife and S. Francisco Railway (ligando Recife à cidade do Cabo), em 1858, e a visita do Imperador Dom Pedro II ao Recife no ano seguinte; efetuando também retratos de tipos humanos brasileiros incluídos no livro Viagem ao Brasil, 1865-1866 do naturalista suíço-americano Louis Agassiz.
Desembarque da Família Imperial, Recife, Pernambuco, 1859. Foto de Augusto Stahl.

Dique Imperial, Rio de Janeiro, circa 1862. Foto de Augusto Stahl.

Rua da Cruz, dos Judeus e do Comércio, Recife, Pernambuco, circa 1855. Foto de Augusto Stahl.

Teatro Santa Isabel, Recife, Pernambuco, circa 1855. Foto de Augusto Stahl.

Palácio do Governo Recife, Pernambuco, circa 1855. Foto de Augusto Stahl.

Mina Nagô, circa 1865. Foto de Augusto Stahl.

Apipucos, Recife, Pernambuco, 1859. Foto de Augusto Stahl.

Igreja Nossa Senhora dos Rosários dos Homens Pretos em Olinda, Pernambuco, circa 1858. Foto de Augusto Stahl.

Os Arrecifes, Recife, Pernambuco, 1875. Foto de Augusto Stahl.

Dica de Filme:

Sinopse:Arroio Grande, Rio Grande do Sul. É nesta pequena localidade que vivia Irineu Evangelista de Souza (Paulo Betti) e tudo indicava que passaria sua vida ali (ou pelo menos grande parte), mas o destino interveio e de forma funesta, pois ainda garoto Irineu se tornou órfão, quando seu pai foi morto por ladrões de gado. Dois anos depois, sua mãe decidiu se casar novamente com João Jesus, mas como o padrasto não aceitava um enteado Irineu foi morar no Rio de Janeiro com Batista, seu tio. No Rio vai trabalhar no armazém do português Pereira de Almeida (Elias de Mendonça), onde o jovem Irineu descobre ter jeito para os negócios, pois tinha uma visão ampla do que iria acontecer no comércio. Ele se torna um funcionário de confiança e um cobrador impiedoso, levando Queiroz (Hugo Carvana) ao suicídio após tomar todos os bens (inclusive escravos) como pagamento de uma grande dívida. Irineu defendia o fim da escravidão por razões econômicas e era um homem de palavra, o que faz seu talento ser reconhecido por Richard Carruthers (Michael Byrne), um escocês que vivia no Brasil, que o emprega em sua firma de exportação e lhe dá as primeiras noções das teorias econômicas. Alguns anos depois, Carruthers diz que sente o mesmo que os negros, banzo, que é saudade da terra natal, pois ficara rico no Brasil mas deixara seu coração na Escócia. Assim, parte deixando Irineu comandando os negócios. Nesta altura da vida, Irineu se apaixonou pela sobrinha, May (Malu Mader), com quem irá se casar e ter vários filhos. Em Liverpool, Inglaterra, se deslumbra com a potência das fábricas e decide liquidar sua empresa comercial para se arriscar na construção da primeira indústria brasileira, uma fundição e estaleiro em Ponta de Areia, Niterói. Desde quando começou a enriquecer, Irineu ganhou um inimigo para toda a vida, o Visconde de Feitosa (Othon Bastos), que o via como um aventureiro que sonhava apenas em ganhar mais dinheiro e desviar o Brasil da sua "vocação agrícola". Irineu queria modernizar o país, mas sofreria mais obstáculos do que seria capaz de imaginar, pois seria prejudicado por estrangeiros mas principalmente pelos brasileiros que pertenciam a uma oligarquia, que apenas queriam usufruir os bens sem nada produzir.
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-23737/
Direção: Sergio Rezende, 1999.
Trailer: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-23737/trailer-19543084/

Referências:

KOSSOY, Boris. Hercule Florence: a descoberta isolada da fotografia no Brasil. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

OLIVEIRA, Erivam Morais de; VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Ed. Senac nacional, 2004.

SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Tradução de Lourenço Pereira. Lisboa: Dinalivro, 2001. Título original: Historia de la Fotografia.

TURAZZI, Maria Inez; FUNARTE. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839/1889). Rio de Janeiro: FUNARTE: Rocco, 1995.

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