segunda-feira, 25 de maio de 2015

História da Fotografia no Brasil - Século XX - De 1945 a 1960

1945: O ano de 1945 foi marcado também pelo surgimento de um outro trabalho de ruptura. Tratava-se de Thomas Farkas que ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante nesta época. Através de um ângulo de tomada não usual, ele bombardeia o nosso senso de equilíbrio. Se dedicou ao cinema amador.


Thomaz Jorge Farkas (Budapeste, Hungria 1924 - São Paulo 2011). Fotógrafo, professor, produtor e diretor de cinema. Em 1930, imigra com a família para São Paulo, onde seu pai é sócio fundador da Fotoptica, uma das primeiras lojas de equipamentos fotográficos do Brasil. Associa-se ao Foto Cine Clube Bandeirantes (FCCB) em 1942, e começa a expor em salões nacionais e internacionais. Na década de 1940, fotografa companhias de balé, esportes, paisagens e cenas do cotidiano urbano de São Paulo e do Rio de Janeiro.


Realiza, em 1949, a mostra individual “Estudos Fotográficos”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e sete imagens suas passam a integrar a coleção do Museum of Modern Art (MoMA). Faz experimentações em cinema, freqüenta os estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Gradua-se em Engenharia Mecânica e Elétrica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) em 1953. De 1957 a 1960, fotografa a construção e a inauguração de Brasília. 


Entre 1964 e 1972, atua como produtor, patrocinador e, algumas vezes, como diretor de cinema e fotografia em documentários sobre a cultura popular no interior do Brasil no projeto conhecido como Caravana Farkas, que reúne vários cineastas. Em 1997, lança o livro Thomaz Farkas, Fotógrafo e realiza exposição homônima no MASP com trabalhos produzidos nos anos 1940 e 1950. 


Em 2005, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (PESP) inaugura a exposição Brasil e Brasileiros no Olhar de Thomaz Farkas, que apresenta, pela primeira vez, imagens coloridas feitas nas décadas de 1960 e 1970. No ano seguinte, parte dessas fotos é reunida no livro Thomaz Farkas, Notas de Viagem


1949: Geraldo de Barros nasceu em Chavantes, São Paulo em 1923 e faleceu em 1998. Fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico, designer de móveis e desenhista. É um dos fundadores do Grupo 15, ateliê instalado no centro da cidade em 1947, onde constrói um laboratório fotográfico. Ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante em 1949, já com uma experiência anterior em artes plásticas.

Fez fotos de cenas montadas e fotografou objetos, enfatizando o ritmo de seus elementos constitutivos. Múltiplas exposições, recortes, superposições e desenhos sobre o negativo, montagens fotográficas, cortes nas cópias já prontas demonstram a linguagem de Barros. Com Thomaz Farkas, em 1949, cria o laboratório e os cursos de fotografia do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP.
 
Esquerda: A menina do sapato, 1945.
Direita: Homenagem a Stravinsky , 1949.

Geraldo de Barros organizou a exposição “Fotoformas”, cujo título é referência à Gestalt, realizada no MASP em 1950, trouxe a público um trabalho precursor da arte de vanguarda no Brasil. Nesta exposição as fotos foram combinadas sobre suportes especialmente projetados, que além de modificarem a percepção das fotos isoladas, propunham uma organização construtiva do espaço num sentido mais amplo.

1950: O fotojornalismo recebe grande impulso com a revista O Cruzeiro e o Jornal do Brasil, no mesmo ano em que a fotografia é declarada “utilidade pública” em São Paulo.

1951: José Oiticica Filho participou do Photo Club Brasileiro no começo dos anos 1940 e depois participou do Foto Cine Clube Bandeirante. Criou montagens fotográficas, como a obra “O túnel” (abaixo), de 1951, com o resultado final a partir de duas fotos. José Oiticica Filho nasceu no Rio de Janeiro em 1906 e faleceu em 1964, filho de um pensador anarquista e filólogo José Oiticica. Pai dos artistas visuais Hélio Oiticica César Oiticica.

Conseguiu trazer para a fotografia brasileira um frescor ainda hoje revolucionário. Foi fotógrafo, pintor, professor, matemático e entomologista no Museu Nacional. Nesta atividade via no microscópio coisas que o maravilhavam e forma essas imagens visualizadas é que desencadearam a necessidade de aprender fotografia. Foi incluído numa lista dos melhores fotógrafos do mundo, constituída pela Fédération Internationale d'Art Photographique.

Em Composição Óbvia (abaixo), de 1955, um marco em seu trabalho, retoca inteiramente a foto, realçando as formas geométricas. Experimenta vários processos para atingir a abstração.

Vídeo sobre o foto Cine Clube Bandeirante com o Prof. Rubens Fernandes Junior.

1951: José Medeiros, discípulo de Jean Manzon, fotografou cerimônias de candomblé, em um registro considerado como etnográfico. A reportagem mais famosa foi “As noivas dos deuses sanguinários”, publicada em 15 de novembro de 1951, sobre a iniciação de jovens mães de santo no Terreiro de Oxossi de Candomblé na Bahia, de Mãe Riso da Plataforma, trazia inclusive cenas de sacrifício animal e texto de Arlindo Silva.

Nascido em Teresina no Piauí no ano de 1921, Medeiros recebeu influência do pai que adorava tirar fotos da família em dias de domingo em praças da capital. Ele possuía um tripé, colocava a máquina e configurava no modo automático e tirava foto dele junto à família.

A primeira máquina de Medeiros foi presente de seu pai para ele realizar seu primeiro trabalho como fotógrafo. Mudou para o Rio de Janeiro em 1939, e trabalhou com foto nas revistas Tabu, Rio e Sombra. Entrou para a revista O Cruzeiro em 1946 e permaneceu por lá por 15 anos. Faleceu em 1990.

“O Cruzeiro passou a ser a etapa final do jornalismo no Brasil, o sonho dourado das pessoas. Um fotógrafo da revista era tão famoso quanto é hoje um galã da Globo. Aonde íamos tinha gente esperando para nos badalar. Cheguei até a dar autógrafos na rua. [...] O fotojornalismo unificou o país através das páginas da revista O Cruzeiro”.
José Medeiros (50 Anos de Fotografia, p. 15 apud COSTA; RODRIGUES, 1995, p. 120
O goleiro uruguaio Máspoli e Augusto, jogador da seleção brasileira, se abraçam após a derrota brasileira na Copa do Mundo de 1950. Rio de Janeiro.

Em 1962, já desligado de O Cruzeiro, ele fundou a agência Image, com Flávio Damm e Yedo Mendonça. Três anos depois, começou a trabalhar em cinema, assinando a direção de fotografia de obras clássicas entre nós, como A falecida (1965), de Leon Hirszman, Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues, e Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos.

A reportagem “As noivas dos deuses sanguinários” foi uma reposta a outra publicação sobre candomblé com o título Les Possédées de Bahia”, publicada pela revista francesa Paris Match, em maio. As fotos foram feitas pelo francês Henri George Clouzot e o texto era pejorativo em relação ao candomblé.
Fonte: Fernando de Tacca (2006, p. 02).

1952: Começa a circular a revista Manchete, da Editora Bloch (de Adolpho Bloch), com a proposta de privilegiar a fotografia como forma narrativa independente do texto. Apoiou e acompanhou a construção de Brasília. Era concorrente da revista O Cruzeiro.

1957: José Medeiros publicou o livro Candomblé com 60 fotos, sendo 38 da reportagem da revista O Cruzeiro, “As noivas dos deuses sanguinários”. Em 2005, o acervo fotográfico de José Medeiros, composto por 20 mil fotogramas, veio integrar definitivamente a coleção do Instituto Moreira Salles (IMS).

1958: Instalação da empresa Fuji no Brasil.

1960: As revistas Realidade e Bondinho e Jornal da Tarde estampam praticamente todas as matérias com fotos em suas páginas.

Dica de Filme:

Sinopse: O bando de cangaceiros do capitão Gaudino (Milton Ribeiro) semeia o terror pela caatinga nordestina. É neste contexto que a professora Maria Clódia (Vanja Orico), raptada durante um assalto do grupo, se apaixona pelo pacífico Teodoro (Alberto Ruschel). O forte amor entre os dois gera grande conflito no bando.
Direção: Lima Barreto, 1953.

Referências:

BUITONI, Dulcilia Schroeder. Fotografia e jornalismo: a informação pela imagem. São Paulo: Saraiva, 2011. (Coleção Introdução ao Jornalismo; v. 6).

COSTA, Helouise; RODRIGUES, Renato. A fotografia moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ: IPHAN: FUNARTE, 1995.

OLIVEIRA, Erivam Morais de; VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Ed. Senac nacional, 2004.

TACCA,  Fernando de. O Cruzeiro versus Paris Match e Life Magazine: um jogo especular. In:In: Líbero. Ano IX, n. 17, Jun. 2006. Disponível em: http://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/05/O-Cruzeiro-versus-Paris-Match-e-Life-Magazine.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário