segunda-feira, 16 de março de 2015

A Fotografia Anos 1920 – Grandes Fotógrafos, Fotogramas, Ermanox e Rolleiflex

1920: Sob o impulso do grande teórico da fotografia Lázló Moholy-Nagy e de Alexander Rodtchenko, a fotografia construtivista renova a percepção da atualidade, introduzindo a grande angular e os grandes planos. Promove o uso da fotografia para retratar a era moderna. Moholy-Nagy recorreu ao fotograma, fruto da luz sem intervenção óptica, e usou as possibilidades de ampliação, montagem, dupla exposição, vistas em plano picado.


Lázló Moholy-Nagy (1895-1946) foi o fotógrafo mais influente da vanguarda alemã, acreditava que a fotografia oferecia uma linguagem visual universal ideal para as necessidades progressistas da sociedade moderna. Em 1925, delineou sua estética da Nova Visão em pintura, fotografia e filme. Com a Leica A não só a imagem do quadro era significativa, quanto a forma como a própria câmera tornava possível a composição.
Retrato feito por Lucia Moholy.

 


1922: Alexander Rodchenko (1891-1956), pintor e gráfico nascido em São Petersburgo, começa a produzir fotomontagens usando imagens achadas, como fotografias publicadas em jornais. Fez fotomontagens para ilustrar poemas de Maiakovski. Fotografia tipicamente soviética, envolvimento com a pintura abstrata: construtivismo russo.

“Os seus enquadramentos oblíquos, as suas tomadas de vista em picado de paisagens urbanas e fabris ajustam-se à estética da época, patente também no cinema soviético” (SOUGEZ, 2001, p. 241).
 
Osip Brik, crítico literário, 1924. Gelatina e prata com detalhe em guache.

 
Esquerda: Calle Miasnitzkaïa (actual calle Kirov).
Direita: Sobre eso.

  

 

1924: Apresentação da Ermanox, primeira câmara portátil com uma objetiva, com negativos de vidro de pequeno formato, extraordinariamente luminosa, muito usada por fotógrafos de imprensa e em locais pouco iluminados. A possibilidade de fotografar em interiores sem "flash" ou tripé, com uma câmara pequena orientou o fotojornalismo para a direção em que ainda hoje se mantém - a informação direta. Com a Ermanox, o alemão Erich Salomon pôde captar detalhes das reuniões de cúpula dos dirigentes europeus, inaugurando um inusitado estilo de comentário político na imprensa.
 

“Erich Salomon, Recepção no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Paris, 1931. Esta é, talvez, a fotografia mais famosa de Solomon. Os fotógrafos não eram admitidos no evento, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros francês apostou com o seu chefe do protocolo que Solomon iria estar lá. E efetivamente esteve. A fotografia representa o instante em que o governante avista Solomon e exclama: ‘Le voilá! Le Roi des indiscrets!’. Solomon é considerado um dos progenitores do fotojornalismo moderno, devido à introdução da fotografia cândida: o fotógrafo procura descobrir os instantes em que as figuras públicas baixam as suas defesas para as fotografar descontraidamente. A fotografia posada cedia lugar à fotografia viva”.
Jorge Pedro Sousa, 2004, p. 31

1924: Man Ray (Emmanuel Rudnitzky, 1890-1976) nasceu no sul da Filadélfia, Pensilvânia, depois mudou para Nova York. Trabalhou como desenhista publicitário e estudou pintura antes de adotar a fotografia. Ray teve contato com os artistas dadaístas e surrealistas, dedicou-se ao retrato entre outros temas. Ganhou em 1961 a Medalha de Ouro de Fotografia na Bienal de Veneza.

Man Ray faz em 1924 uma de suas obras mais famosas “O Violino de Ingres” (abaixo) com a musa Alice Prin, foi publicada no periódico francês Littérature.Ray pintou os ouvidos de um violino à mão na impressão, provocando uma perfuração surrealista do corpo. A pose da modelo sugere o corpo como um instrumento, como uma curva do violino.
 

 

 
Esquerda: Marcel Duchamp.
Direita: Lee Miller.

 
Esquerda: Joan Miró.
Direita: Salvador Dalí.

1926: A italiana Tina Modotti (1896-1942) fotografou a cultura e a política mexicana pós-revolução mergulhando na cena vanguardista mexicana. A Parada dos Trabalhadores (abaixo) mostra os camponeses em um ponto de observação elevado durante a parada de 1º de maio de 1926. Os sombreiros tremidos dão a sensação de movimento.
 

 
Esquerda: "Um orgulho agrarista", menino mexicano camponês, 1927. 
Direita: Filha de ferroviário, 1928.

 
Esquerda: Mãe índia amamentando seu bebê, 1925.
Direita: Mãos do Titereiro, 1929.

1927: A americana Margaret Bourke-White fotografou vários temas e destaca-se pelo seu pioneirismo em muitos destes. Criou fotografias de arquitetura de Cornell, com estas preparou seu primeiro portfólio. Fez imagens da fundição de aço da Otis Steel Company em Cleveland, Ohio. Foi um dos grandes nomes do fotojornalismo americano, sendo a primeira repórter fotográfica das revistas Life e Fortune. Preocupou-se em documentar as privações sociais das pessoas nos Estados Unidos. Publicou uma obra fotográfica em 1937 sobre os estados do sul dos Estados Unidos durante a Grande Depressão, intitulada "You Have Seen their Faces", do escritor Erskine Caldwell.
Esquerda: Margaret Bourke-White durante reportagem na Rússia, 1931.
Direita: Margaret Bourke-White trabalhando no topo do Edifício Chrysler, 1934. Imagem feita por Oscar Graubner.

Margaret Bourke-White foi a primeira mulher que teve a permissão de fotografar na União Soviética na década de 1930, um oficial russo deu a permissão após examinar seu portfólio, produziu cerca de mil imagens de barragens, fábricas e trabalhadores. Ficou no front de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive fazendo imagens de campos de extermínio nazistas. Fez imagens de Mahatma Gandhi horas antes dele ser assassinado em 1946.
Esquerda: Capa da primeira edição da Revista Life, 23/11/1936. A matéria era sobre a construção de represa no Rio Missouri, Montana, Estados Unidos.
Direita: Presos no campo de concentração de Buchenwald, na Alemanha, 1945.

“A sua reportagem sobre a libertação dos campos de deportação nazis pode considerar-se como o culminar a sua carreira, ainda que prosseguisse a sua obra com imagens da resistência pacífica de Gandhi e da Guerra da Coreia” (TUDO SOBRE FOTOGRAFIA, 2012, p. 205).
Pilha de cadáveres, campo de Buchenwald, 1945. Esta fotografia mortal foi publicado na edição de maio da revista Time em 1945, com a descrição: "Homens mortos terão de fato morrido em vão se os homens vivos se recusam a olhar para eles".

  
Esquerda: Gandhi em sua casa, Índia, 1946. 
Direita: Estátua da Liberdade, 1951.

 
Esquerda: Decapitação de um prisioneiro durante a Guerra da Coreia, 1951.
Direita: Reportagem sobre a segregação racial nos Estados Unidos, 1956.



1928: Apresentação da câmara fotográfica Rolleiflex TLR (reflex de duas objetivas gêmeas), projetada por Franke e Heidecke.
 

1928: O inglês Cecil Beaton (1904-1980) lançou sua carreira como fotógrafo da sociedade em 1927 com uma exposição em Londres, que lhe valeu um contrato com a Vogue. A foto “Miss Nancy Beaton como uma estrela cadente” (abaixo) mostra a melhor forma romântica e extravagante.
 
Cecil Beaton atrás da câmera. Foto: Louise Dahl-Wolfe.

Em 1939, Cecil Beaton fotografou a Rainha Elizabeth, a mãe de Elizabeth II. Beaton desenhou os figurinos da produção da Broadway de Gigi (1958) e My Fair Lady (1964). Ganhou dois Oscars por estes trabalhos, além de Oscar de direção de arte em My Fair Lady. Foi agraciado com o título de Sir em 1972. Abaixo, figurino desenhado para o filme My Fair Lady, ao lado foto da atriz Audrey Hepburn.
 

 
Marilyn Monroe.

 
Esquerda: Elizabeth Taylor.
Direita: Maria Callas.

1928: A revista semanval Vu é fundada por Lucien Vogel. Uma das primeiras revistas semanais com ilustrações fotográficas, costuma apresentar trabalhos de fotógrafos de vanguarda residentes em Paris, inaugura um novo tipo de imprensa gráfica. Contrata fotógrafos como André Kertész e Brassaï. Durou de 21 de março de 1928 até 29 de maio de 1940.
  
 Foto de capa: Man Ray.

1929: A franco-alemã nascida na Polônia, Germaine Krull, (1897-1985) publica seu livro de fotografias 100 x Paris, em que documenta a cidade com sua estética modernista peculiar. Krull conviveu com muitas artistas e escritores nos círculos de vanguarda. Trabalhou com moda, retratos, nus femininos, montagens de vanguarda e fotografia de rua. Germaine Krull usou ângulos dramáticos e pontos de vista e cortes incomuns para documentar partes geométricas e intricadas de maquinário e estruturas industriais.
Self-portrait with cigarette, 1925.

Esquerda: Jean Cocteau, 1929.
Direita: Sem título, 1928.


Dica de Filme:

Sinopse: Henry Higgins (Rex Harrison), um intelectual e professor de fonética, aposta que conseguirá, no período máximo de seis meses, transformar Eliza Doolittle (Audrey Hepburn), uma simples florista de rua que não sabe falar direito, em uma dama. Mas a tarefa se mostra muito mais difícil do que tinha sido imaginada originalmente.
Direção: George Cukor, 1965.

 Referências:

HACKING, Juliet (editora geral). Tudo sobre fotografia. Tradução de Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. Título original: Photography: the whole story.
REVISTA FHOX. Dez. 1999/jan. 2000. Ano XI. N. 58. São Paulo: Fhox, 1999.
SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2004.
SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Tradução de Lourenço Pereira. Lisboa: Dinalivro, 2001. Título original: Historia de la Fotografia.
SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004.

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