domingo, 1 de março de 2015

Niépce, Daguerre e Talbot – o nascimento da fotografia no século XIX

1816: O militar e cientista francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) influenciado pelas técnicas utilizadas para fazer gravuras, associou seus estudos à técnica de água-forte (usando placa metálica), conseguindo bons resultados em cópia de contato na obtenção de matrizes para impressão (litografia). Porém, esses resultados foram poucos práticos e Niépce viu-se obrigado a procurar outras substâncias que pudessem registrar a imagem formada pela câmera obscura.

1819: O cientista John Frederick William Herschel (1792-1871), demonstra as propriedades do hipossulfeto de sódio, como fixador para as fotografias.
Retrato feito por Julia Margaret Cameron, 1867

1826: Utilizando uma câmara escura Niépce realiza com sucesso aquela que é considerada a primeira fotografia permanente do mundo, após oito horas de exposição de uma placa de estanho sensibilizada com betume da Judéia (espécie de asfalto existente na região da Palestina), por fim submeteu esta placa a um banho de essência de alfazema. Niépce chamou a técnica de heliografia, isto é, “escrita com luz solar”, a imagem mostra os telhados do vilarejo vistos de sua casa de campo de Le Gras, na vila de Saint Loup de Varenne, perto de Chálon-sur-Saóne, sua cidade natal na França. A obra encontra-se na Harry Ransom Center, na Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos.
Vista de Gras, França 

1827: Niépce associa-se ao pintor Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), inventor do diorama, que consistia em um teto de efeitos a base de luz de velas. A sociedade não prospera e após a morte de Niépce, em 1833, Daguerre continua o trabalho, substituindo o betume da Judéia por prata. Daguerre descobre a fotosensibilidade do iodeto de prata, ao expor na câmara escura placas de cobre recobertas com prata polida e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de iodeto de prata sensível à luz. O processo é chamado de daguerreótipo (ou daguerreotipia).
“A daguerreotipia aparentava-se conceitualmente à pintura por seu caráter de imagem única. Por isso não é de se estranhar que o daguerreótipo tenha obtido sucesso notável junto à burguesia emergente da época, ávida por símbolo de status capaz de aproximá-la da nobreza, dona do privilégio de ter seus retratos únicos eternizados pelos pintores” (SENAC, 2004, p. 160).


1833: Início das experiências do escritor, cientista, poliglota, viajante e ex-membro do parlamento inglês William Henry Fox Talbot (1800-1877), que culminaram de uma técnica que permitia o registro de uma imagem sobre papel sensibilizado por ação da luz emulsionado de nitrato de prata.

1835: Talbot, na Inglaterra, inventa um processo denominado Calótipo ou Talbótipo (Calotipia ou Talbotipia) e produz fotografias permanentes. Um processo semelhante aos anteriores, mas, quando exposta a luz, produz um negativo e através da técnica de contato obtém-se o positivo. As cópias fotográficas, obtidas por contato, eram realizadas em papel salgado, com uso de um “sanduíche” de vidro em um chassi da madeira exposto à luz do sol. Usava como fixador o hipossulfeto de sódio.
  

1837: Daguerre faz parceira com seu cunhado, Alphonse Giraux, para construir comercialmente o daguerreótipo. É o início da indústria fotográfica.

“O ateliê do artista, o primeiro daguerreótipo a ser exposto, revelado e fixado com sucesso” (TUDO SOBRE FOTOGRAFIA, 2012, p. 18).

1839: Daguerre vende sua idéia ao governo francês por uma pensão vitalícia de 6 mil francos – padronizava os processos químicos de revelação e fixação da imagem. No dia 19 de agosto a descoberta é descrita publicamente, em reunião conjunta das Academias de Ciências e de Belas-Artes da França (Académie des Beaux-Arts e Académie des Sciences) com o discurso de Jean François Dominique Aragô. Por isso, no dia 19 de agosto é comemorado o Dia do Fotógrafo e Dia Mundial da Fotografia.


Na Inglaterra, John Herschel, em uma conferência na Royal Society, emprega as expressões “fotografia”, “negativo” e “positivo”.

O primeiro ser humano a aparecer numa fotografia ocorre quando Daguerre fotografa do alto um boulevard parisiense. Um homem pára numa esquina para engraxar os sapatos, sem saber que será a primeira vítima da objetiva. 
Boulevard du Temple, Paris, Daguerre, 1839.

Dica de Filme:
Sinopse: Nos primeiros anos do século XIX, em meio ao radicalismo da Inquisição e à iminente invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão Bonaparte (Craig Stevenson), o gênio artístico do pintor espanhol Francisco Goya (Stellan Skarsgard) é reconhecido na corte do Rei Carlos IV (Randy Quaid). Inés (Natalie Portman), a jovem modelo e musa do pintor, é presa sob a falsa acusação de heresia. Nem as intervenções do influente Frei Lorenzo (Javier Bardem), também retratado por Goya, conseguem evitar que ela seja brutalmente torturada nos porões da Igreja. Estes personagens e os horrores da guerra, com os seus fantasmas, alimentam a pintura de Goya, testemunha atormentada de uma época turbulenta. 
Direção: Milos Forman, 2007.


Referências:
HACKING, Juliet (editora geral). Tudo sobre fotografia. Tradução de Fabiano Morais, Fernanda Abreu e Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. Título original: Photography: the whole story.
OLIVEIRA, Erivam Morais de; VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
REVISTA FHOX. Dez. 1999/jan. 2000. Ano XI. N. 58. São Paulo: Fhox, 1999.
SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2004.
SOUGEZ, Marie-Loup. História da Fotografia. Tradução de Lourenço Pereira. Lisboa: Dinalivro, 2001. Título original: Historia de la Fotografia.
TURAZZI, Maria Inez; FUNARTE. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839/1889). Rio de Janeiro: FUNARTE: Rocco, 1995.


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