domingo, 8 de março de 2015

As Mulheres na Fotografia

Homenagem a algumas fotógrafas em função da data de 8 de março...

Julia Margaret Cameron (1815-1879)


Fotógrafa indiana nascida em Calcutá, na Índia, mas radicada na Inglaterra, fez uma série de fotografias da sua família e de amigos num estilo próximo dos pintores, utilizava de maneira muito criativa a luz e começou a fotografar aos 48 anos, fotografou inclusive pessoas famosas da época. Criava retratos demonstrando personalidades como Charles Darwin e Sir. John Herschel, importante astrônomo que participou do desenvolvimento do processo fotográfico. Cameron retratava as mulheres como heroínas, mostrando sua beleza triste e firmeza moral, o seu mais importante retrato foi de Annie Philpot (1864). No entanto, a imagem Beatrice de 1866 foi feita em homenagem a Beatrice Cencil, que foi enforcada em Roma em 1599 por ter encomendado a morte de seu pai, o Conde Francesco, que abusava dela.
  
                                                        Beatrice

Dorothea Lange (1895-1965)

É uma pedagoga que estudou em Sorbonne, foi uma das principais fotógrafas do projeto Farm Security Administration. A imagem “Mãe migrante, Nipomo, Califórnia” (abaixo) que mostra uma mãe e seus filhos passando fome, chamou atenção para as provações dos fazendeiros californianos, nesta imagem mostra Florence Owens Thompson, que cresceu no Território Indígena da Nação Cherokee em Oklahoma, foi a fotografia mais famosa do projeto em 1936. Com o propósito de documentar os horrores provenientes dessa situação, Dorothea Lange publica seu livro The American Exodus (O Êxodo Americano), com texto de Paul Taylor. O livro foi utilizado para um relatório do Congresso Americano e, com esse projeto, Lange fez da situação, um problema conhecido nacionalmente, tendo suas fotos publicadas em inúmeros jornais e revistas. Mais tarde fez reportagens para a Life em países da América Latina e da Ásia.
  
                                                                        Mãe Migrante

  Margaret Bourke-White (1904-1971)

A americana Margaret Bourke-White fotografou vários temas e destaca-se pelo seu pioneirismo em muitos destes. Criou fotografias de arquitetura de Cornell, com estas preparou seu primeiro portfólio. Fez imagens da fundição de aço da Otis Steel Company em Cleveland, Ohio. Foi um dos grandes nomes do fotojornalismo americano, sendo a primeira repórter fotográfica das revistas Life e Fortune. Preocupou-se em documentar as privações sociais das pessoas nos Estados Unidos. Publicou uma obra fotográfica em 1937 sobre os estados do sul dos Estados Unidos durante a Grande Depressão, intitulada "You Have Seen their Faces", do escritor Erskine Caldwell. Foi a primeira mulher que teve a permissão de fotografar na União Soviética na década de 1930, um oficial russo deu a permissão após examinar seu portfólio, produziu cerca de mil imagens de barragens, fábricas e trabalhadores. Ficou no front de batalha durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive fazendo imagens de campos de extermínio nazistas. Fez imagens de Mahatma Gandhi em sua casa, horas antes dele ser assassinado em 1946 (abaixo).
 

Diane Arbus (1923-1971)

A fotógrafa norte-americana Diane Arbus iniciou sua carreira como fotógrafa de moda junto com seu marido, mas a partir dos anos 1960 passou a fotografar deficientes, travestis, anões e prostitutas, ou seja, se interessou em retratar o que era considerado uma população marginal, pessoas em que não havia interesse em serem fotografadas por parte de muitos fotógrafos, problematizando os estereótipos da moda em contradição as pessoas que estavam fora desse modelo de beleza e estética a ser fotografado, publicado e visto por todos. Suas imagens revelam seu contato e aproximação com as pessoas, representa um olhar sem preconceitos, que busca o contexto e a situação vivida por estas. Os retratos de Arbus são considerados psicológicos que mostram a cultura suburbana americana, ao criar imagens de pessoas como nudistas e toxicodependentes em planos frontais com poses diferenciadas.

 
         Anão mexicano em seu quarto de hotel, em 1970.

Nair Benedicto (1940)

Formada em Comunicação (Rádio e Televisão) pela Universidade de São Paulo em 1972, data em que iniciou sua carreira de fotógrafa. É sócia fundadora da Agência F4 de Fotojornalismo em 1974 junto com Juca Martins, Delfim Martins e Ricardo Malta e da Nafoto. Desde 1991 dirige a N Imagens, através da qual veicula seu acervo e trabalhos. Fotografou índios e trabalhadores sem terra. Documentou a situação da mulher e da criança na América Latina pela UNICEF e UNIFEM em 1988 e 1989. Tem fotos publicadas nas principais revistas nacionais e internacionais, assim como no acervo do MOMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), no Smithsonian de Washington, no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e no do Rio de Janeiro, e no Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo. Foi reconhecida com o Prêmio Trip Transformadores 2010. Foi a fotógrafa homenageada no Foto Fest POA 2012.
  

Renata Victor (1966)

É formada e pós-graduada em Design pela Universidade Federal de Pernambuco. Trabalhou no Jornal do Comércio durante 10 anos, começou como repórter fotográfico, passou para subeditora e depois assumiu a editoria de fotografia. Leciona na Universidade Católica de Pernambuco desde 1991, nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas. Atua como Coordenadora do Curso Tecnológico de Graduação em Fotografia desde 2010 (http://www.unicap.br/galeria/pages/). Participou de várias exposições, tais como, Pernambuco Mix, a qual foi curadora em Recife e São Paulo. Como professora orientadora, ganhou 45 prêmios nos Sets Universitários e INTERCOM. É diretora da Agência que leva seu nome, onde tem como clientes empresas como Sistema Fiepe, Baterias Moura, Coca Cola, Natura, Votorantim, Cerimonial Tatiana Marques, entre outros. Editora da Revista Unicaphoto que trata de pesquisas em fotografias, ensaios fotográficos e demais temas (http://www.unicap.br/unicaphoto/). A imagem abaixo foi publicada na segunda edição da Revista Unicaphoto no ensaio "Recortes de Manhattan".
  

Nan Goldin (1953)

Começou a fotografar aos 15 anos, quando ganhou a sua primeira câmera de seu professor. Depois de se formar na School of the Museum of Fine Arts, em Boston, em 1978, Nan Goldin mudou-se para Nova Iorque e começou a fotografar o cenário new-wave pós-punk e a subcultura gay no final da década de 1970 e começo da década de 1980. Goldin publicou seu diário visual íntimo intitulado A balada da dependência sexual, que trata da política sexual, a questão de gênero e revela a vida de uma comunidade marginal urbana no Lower East Side, em Nova York, esta coleção tem 700 slides acompanhadas de música. A fotografia de Nan um mês após ser espancada (abaixo) mostra o relacionamento violento entre ela e o namorado, Brian. Em novembro de 1989, Goldin foi curadora da exposição de imagens “Testemunhas contra nosso desaparecimento” na Galeria Artists Space, em Nova York, muitas das fotos tinham como tema o impacto da Aids sobre o corpo humano, com algumas imagens sexualmente explícitas, mostrando o corpo e a sexualidade. A intenção dos artistas com esta exposição foi alertar outras pessoas da devastação de sua comunidade e oferecer um espaço de apoio aos que estavam morrendo de Aids.
  

Cindy Sherman (1954)

Ao tratar das modalidades de representação possíveis através das fotografias é necessário analisar o trabalho de Cindy Sherman, uma fotógrafa norte-americana que em muitas das suas criações é, ao mesmo tempo, fotógrafa e fotografada, ou seja, elabora a cena e é a modelo que empresta seu corpo para representar inúmeros papeis. A série Untitled Film Stills (Fotogramas de cinema sem título), realizada entre 1977 e 1980, consta de 69 fotografias em preto e branco representando diferentes tipos femininos estereotipados. São fotografias com poses inspiradas em personagens de novelas, de anúncios vistosos e de filmes de Hollywood dos anos 1950, utilizando maquiagem, peruca ou penteados, fantasias e acessórios em cenários pensados para compor a narrativa onde Sherman indica que a feminilidade é uma construção de códigos baseados na representação. Abaixo as imagens Fotograma sem título nº 13 e Fotograma sem título nº 21, ambas feitas em 1978.
 

Shirin Neshat (1957)

O trabalho Mulheres de Alá (feito entre 1993-1997) da artista iraniana Shirin Neshat (1957), que saiu do Irã para os Estados Unidos em 1974, aos dezessete anos, discute a identidade das mulheres iranianas em relação ao fundamentalismo islâmico e a militância política no país. A Revolução Islâmica que ocorreu em 1979 a impediu de retornar ao país, só conseguindo voltar em 1993. Nesta série de imagens, a artista analisa a discrepância entre as experiências passada e presente dela no Irã, além de poder demonstrar sua identidade cultural e religiosa. Em suas imagens aparecem elementos simbólicos como o véu islâmico, a arma, o olhar e o texto em farsi, que são prosas e poesias escritas por mulheres iranianas, como de Forough Farrokhzad. Ao problematizar tais questões identitárias iranianas e colocar a mulher como foco do seu trabalho artístico, através não só de fotografias como também de vídeos, em especial Turbulenta (1998), Êxtase (1999) e Mulheres sem Homens (2009), Neshat discute as questões sobre a sociedade patriarcal, a discriminação e a democracia no Irã.

Gillian Wearing (1963)

Além de mostrar a aparência das pessoas, a fotografia pode tentar demonstrar seus sentimentos e pensamento através de alguns trabalhos peculiares como a obra da fotógrafa e videoartista inglesa Gillian Wearing que faz uma interação com o público na série Cartazes que dizem o que você quer que eles digam e não cartazes que dizem o que outra pessoa quer que você diga. Neste trabalho, constam mais de 50 fotografias coloridas de pessoas que foram abordadas nas ruas e posaram segurando cartazes em que elas escreveram. Estas mensagens elaboradas pelas pessoas funcionam como sua voz, assim a fotógrafa cria um projeto que problematiza a relação entre a imagem que as pessoas aparentam ter e seus sentimentos e emoções do que estão vivendo numa determinada situação na vida, tornando públicos seus pensamentos, em suas performances diárias. Além desta famosa série, Wearing cria a instalação História da família que percorreu o Reino Unido, incorporando autorretratos com seus avós maternos de sua série Álbum. Neste caso, as fotografias servem para lembrar de histórias pessoais, assim memória e identidade são os elementos chave para entender e provocar o passado e o presente. Ao usar roupas, próteses de silicone e maquiagem transforma-se em sua mãe, seu pai, seus tios e seus irmãos em várias épocas.
                
    Self Portrait as My Mother Jean Gregory, em 2003.

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